Em ano de eleições municipais, uma revisão de quem elegemos até hoje
Por Yuri Achcar, Jornalista, repórter de política do Jornal da Record, pós-graduando em Análise & Marketing Político pela Faculdade Republicana
Que qualidades uma pessoa precisa reunir para ser escolhida pelo povo como presidente da nação? Vamos fazer um recorte da redemocratização para cá. Liderança nata já sabemos que é desnecessário. Não foi aqui que elegemos - e reelegemos! - um poste?
Notório saber em algumas áreas do conhecimento humano já foi importante. Mas caiu em desuso. Aliás, não sai de moda ter orgulho da própria ignorância. É tendência hoje, mas já elegemos - e reelegemos! - um presidente que estufava o peito ao declarar que não lia jornais.
Linguagem chula também não é impedimento. Pelo contrário: parece aproximar o líder máximo aos eleitores. Gente como a gente. Mas que gente? Agora é a vez daqueles que têm saudade dos bons tempos que não voltam mais.
Falcatruas, conchavos e apropriação indébita das nossas riquezas não são novidade. Há registros desde 1.500 e não houve um só momento da História em que não ocorreram. Em momentos obscuros foram apenas escondidos.
Mas o cérebro apronta armadilhas. Aquele pão de queijo da vovó não era o melhor do mundo, embora até hoje fique essa sensação de que nunca mais provamos nada igual. É o gostinho de infância. A nostalgia. As chances de ser mais feliz nos últimos anos do que em qualquer outra etapa da vida são enormes (pandemia não vale). Difícil é reconhecer isso. Aquele pirulito com pozinho era, sim, uma porcaria.
E depois de um tempo conseguimos perceber as porcarias que elegemos. Alguns entendem antes. Outros demoram muito. E tem aqueles que jamais aceitarão isso, seja por fé ou ideologia. Às vezes as duas se misturam e quando acrescidas de teimosia (ou nostalgia?) já era. Nem vale a pena discutir. Lembrou de alguém, né?
Sucesso para quem?
Mas voltando ao assunto. O que faz uma pessoa se destacar na multidão e se tornar uma referência, um símbolo de sucesso? Malcolm Gladwell, no livro “Fora de série - Outliers” (Ed. Sextante, 2008), não fala de presidentes da República, mas de Mozart, Bill Gates, os Beatles. Gladwell tenta trazer algumas respostas para o fato de que existem pessoas que chegam lá e outras, não.
Uma coisa é importante dizer: não é coisa de gênio, workaholic ou sortudo. Ser inteligente, muito esforçado e contar com a sorte dão um empurrão e tanto, mas o que define mesmo o sucesso é uma soma de fatores que partem de uma rede de vantagens e heranças e de um princípio básico: estar no local certo, na hora certa, com o conhecimento certo (adeus, meritocracia).
E aí todos os nossos presidentes acertaram. Até o que tinha aquilo roxo. As quedas podem ser creditadas ao mesmo fenômeno ocorrendo no modo avesso. E chegamos até aqui. O presidente eleito em 2018 foi o que reunia um conjunto de características percebido por uma grande parcela do eleitorado como fundamental para o momento. Todos os defeitos já conhecidos foram catalisados como vantagens em relação aos adversários. Um fenômeno eleitoral. Um outlier.
Jair Bolsonaro simbolizou um país cansado das mentiras do teatro político. Não foi escolhido presidente para transformar o Brasil em um exemplo mundial de desenvolvimento sustável, respeito ao meio ambiente e proteção às minorias. Não foi eleito para, finalmente, priorizar a educação brasileira.
Depois da uberização da economia, uberizamos a política. E em meio à precarização das relações trabalhistas e políticas, que presidente vamos querer em 2022? Não por acaso, os vizinhos à Praça dos Três Poderes trocaram as armas de fogo pelo diálogo.
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