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Cine-corpo

A Ginástica fílmica em ação


Por Dani Gonçalves, Documentarista, Jornalista, Mestre em Cinéma anthropologique et documentaire


Não filmamos apenas com os olhos, mas com o corpo inteiro. O conjunto de técnicas corporais de filmagem com a câmera na mão, ou Ginástica Fílmica, foi desenvolvido por Maria Mallet, em 1962, a partir do estudo de várias outras práticas como a mímica, a dança espanhola e as artes marciais. Seu princípio é que o corpo é o primeiro instrumento de trabalho do cineasta. 


Quando filmamos, observamos com os olhos e com a câmera ao mesmo tempo; nossos corpos escolhem onde se posicionar, e a partir deste lugar, fazemos o registro. Em Antropologia fílmica, falamos da observação direta que se faz através do olho, tendo como suporte a memória, sendo influenciada por todos os outros sentidos; e da observação fílmica, que se faz por meio de uma câmera, com um suporte relativamente permanente (digital ou analógico) e de aspecto bi sensorial (audição e visão). Fazemos esta separação com o objetivo de elencar as especificidades de cada qual, entretanto, no mundo real, elas se confundem e nos confundem. Ao assistirmos a um vídeo, as imagens e os sons que chegam até nós remetem a um corpo que se fez presente em uma determinada situação, em um determinado momento.


Se sentir é mecânico, por envolver estímulos de receptores e nervos sensoriais, perceber diz respeito a como nos relacionamos com a informação. Para a educadora Bonnie Bainbridge Cohen, o movimento é a primeira percepção desenvolvida pelo ser humano. Assim, a forma como o percebemos torna-se parte integral da percepção pelos outros sentidos. A maneira como captamos nosso próprio corpo e todo o resto, a partir dele, impacta nossos posicionamentos no mundo, inclusive, enquanto seres criadores. Criatividade envolve presença; e presença, fisicalidade.


Os exercícios de preparação física, respiração, auto-observação do posicionamento do corpo estático ou em movimento têm como objetivo, por um lado, proporcionar maior fluidez nos movimentos e mais estabilidade nos planos fixos. Por outro, segundo Jane Guéronnet, autora do livro Le geste cinématographique (O gesto cinematográfico), pretendem desenvolver a imaginação visual do cineasta e possibilitar sua reatividade diante das manifestações imprevistas da ação filmada. Para simplificar, o corpo torna-se uma espécie de tripé aperfeiçoado, por ser, ao mesmo tempo, móvel e pensante. Reconhecer e trabalhar as limitações físicas é essencial para reconhecer e trabalhar o mundo que nos cerca. Se podemos provocar mudanças, isso só se realiza a partir do nosso posto de observação primeiro, isto é, o nosso corpo. 


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