Música, cultura participativa com I.A. e ética da herança digital
Como típica adolescente dos anos 1990, vivi os tempos encantados dos videoclipes lançados pelo Fantástico e pela MTV. Nunca perdi o fascínio por esse formato de narrativa audiovisual que está ainda mais intrigante com o avanço da tecnologia. Venho estudando bastante sobre os impactos e percursos da I.A. na comunicação. Te convido então para um encontro on-line em que vamos discutir Inteligência Artificial, estética e cultura com uma convidada especial - clique na imagem para saber os detalhes e se inscrever.
Nesse clima tecnológico, relembro aqui alguns exemplos recentes das possibilidades geradas pela I.A. na produção de clipes musicais e dicas de conteúdo para quem quiser se aprofundar.
A recém-lançada música Now and then dos Beatles deu o que falar. A descrição do vídeo no YouTube informa que a canção tem origem em uma famosa demo de John Lennon revisitada por Paul McCartney, George Harrison e Ringo Star durante décadas, a partir de 1995. No clipe dirigido por Peter Jackson, John está representado por imagens de arquivo e pela voz na fita cassete. A edição audiovisual coloca os músicos em em interação com as próprias versões ao longo do tempo.
O polêmico vídeo da campanha da Volkswagen recebeu processo do Conar (arquivado no mês seguinte) e dividiu opiniões sobre a ética na recriação de uma pessoa que já se foi. No fim das contas, parece que a decisão fica a critério da família, mas especialistas em Direito defendem que mesmo com a autorização dos herdeiros, esse tipo de iniciativa tem complicações, pois pode comprometer o legado e a memória da pessoa falecida. O que você acha?
No tempo da intolerância é o nome do álbum póstumo de Elza Soares e da faixa que ganhou um videoclipe com imagens da diva produzidas por Inteligência Artificial. Não encontrei informações mais detalhadas sobre as técnicas e ferramentas utilizadas, mas adorei o resultado. Obs.: pelo que entendi, as faixas do álbum não são resultado de I.A., e sim gravações anteriores à morte da cantora.
Quando a cultura participativa consolidada pela web 2.0 conta com a colaboração da Inteligência Artificial na criação de videoclipes
Há pouco mais de um ano, o canal do YouTube aidontknow criou uma série de vídeos com I.A., entre eles destacam-se clipes para canções do maravilhíssimo David Bowie. As imagens foram produzidas pelo Midjourney a partir dos versos das músicas com pouquíssimas intervenções externas, segundo o canal. Gostei de Starman:
Este clipe da banda Duran Duran foi lançado em maio de 2021 e criado pela Inteligência Artificial Huxley, modelada com base em cognições e emoções humanas. O áudio foi construído com a tecnologia 360 Reality Audio, para uma experiência imersiva com fones de ouvido. A faixa Invisible faz parte do album Future Past. Que tal?
Referências - links úteis
Ouça os episódios do podcast Café da Manhã da Folha de S. Paulo sobre o assunto: A nova música dos Beatles e o uso de inteligência artificial na cultura, de 3 de novembro de 2023; Clones digitais e inteligência artificial, de 30 de junho de 2023.
Os desafios para regulamentar o uso da Inteligência Artificial, reportagem publicada no Nexo Jornal em 9 de setembro de 2023.
Herança digital e o caso Elis Regina: implicações jurídicas no uso da imagem de pessoas mortas pela Inteligência artificial, artigo acadêmico publicado na Revista Jurídica do Centro Universitário de Curitiba, v. 3, ed. 75, 2023.
Por Carol Assunção - jornalista, consultora, professora e pesquisadora
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