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Memórias, presságios e poderes 

O IV Seminário Docere, Delectare et Movere: sonhos, ficções e (ir)racionalidades começou na tarde de quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024, com uma mesa de abertura emocionante após a pausa de três anos entre o terceiro seminário e este, devido à pandemia de COVID-19. O início do encontro teve um toque de saudade: a nostalgia do que já vivemos e de tudo o que estaria por vir nos quatro dias seguintes.

 

Os professores organizadores Maria Cecília Coelho (Filosofia/UFMG), Helcira Lima (Letras/UFMG) e Walter Menon (Filosofia/UFMG) apresentaram o evento e a bibliografia de base. Junto do atual diretor do Santuário do Caraça, Padre Luís Carlos do Vale Fundão, também prestaram homenagem póstuma ao ilustre e saudoso Padre Lauro Palú, entusiasta da filosofia e áreas correlatas que tanto contribuiu para a realização dos três primeiros seminários. Esperamos que você possa partilhar desse sentimento conosco ao longo das publicações.

Artemidoro de Daldis: um analista crítico de sonhos 

A professora Anise Ferreira (Letras Clássicas/UNESP - Araraquara) realizou a primeira conferência da programação, sob o título de Motivações oníricas em Artemidoro de Daldis. Ela contemplou discussões filosóficas acerca dos sonhos (oneiros) e da relação de alguns deles com os presságios sob a perspectiva de Artemidoro de Daldis, um analista de sonhos e adivinho profissional grego que viveu na segunda metade do século II d.C..

De acordo com a pesquisadora, Artemidoro estipula que os sonhos devem ser interpretados cuidadosamente por peritos - os oneirocríticos -, já que a interpretação é a mediadora entre o que se fantasia no sono e o seu “real” significado. Para explicar tais significações, o filósofo sistematiza alegorias como “sonhar ter as orelhas de um asno é bom apenas para os filósofos, porque o asno não move suas orelhas rapidamente. Mas, para os demais, significa escravidão e trabalho pesado” (excerto do Livro I).

 

As relações inferidas pelo filósofo conectam sujeito, conteúdo e projeção, o que impressiona Freud, norteando-o, posteriormente, para a ideia psicanalítica dos desejos do inconsciente.

oneirokritika de artemidoro de daldis

Retórica, sonhos sexuais e empoderamento feminino

A primeira mesa redonda contou com as falas de Helcira Rodrigues de Lima, Nilton Milanez (Letras/UNEB) e Bruna Toso (Letras/UEMG). A professora Helcira expôs as origens, objetivos e demais detalhes dos dez anos de trajetória do grupo RETORAR, que promove o diálogo entre pesquisadores e pesquisadoras interessados em retórica e argumentação nos mais diversos domínios do saber. Dentre as numerosas parcerias, projetos e eventos organizados, o grupo também corroborou para a formação de diversos alunos, muitos dos quais encontram-se presentes no IV Seminário, e foram, com muito orgulho, citados pela professora. 

O sujeito sonhador e os prazeres oníricos: sobre os modos de existência com Foucault em Artemidoro - O professor Nilton retomou, em seguida, alguns aspectos previamente discutidos na conferência da professora Anise Ferreira. De volta às análises de sonhos de Artemidoro, trouxe quatro pontos principais acerca dos sonhos sexuais apresentados pelo filósofo sob o olhar de Foucault, com base na obra A História da Sexualidade, mais especificamente o volume 3, O cuidado de si, capítulo de abertura - Sonhar com os próprios prazeres:

1. Do desejo para o prazer

2. Uma problematização moral dos prazeres

3. O sentido diagnóstico, as práticas jurídico-morais dos sonhos sexuais e o lugar do qual fala Artemidoro

4. As modalidades das relações sexuais nos sonhos e o lugar do sujeito sonhador na esfera jurídico-moral

 

 

Assim, foram retomados alguns dos sonhos sexuais, apresentadas as interpretações de Artemidoro e, então, as análises de Foucault. Apesar das divergências, o professor concluiu que ambos autores trazem o mesmo questionamento: o que somos? E o que deveríamos ser?

O empoderamento feminino: o sonho para tomada de consciência - A última fala, da professora Bruna Toso, foi sobre o empoderamento feminino. Ela problematizou o esvaziamento do termo, originado nos movimentos sociais, mas apropriado pelo discurso liberal que ignora as relações de gênero. Após a explicitação do termo e de como funcionam as violências simbólicas em nossa sociedade, foram apresentadas as quatro fases do empoderamento:

  • a tomada de consciência,

  • o empoderamento interno,

  • o empoderamento para ser quem é

  • e o empoderamento coletivo.

 

A partir da análise do filme Eu não sou homem fácil (Je ne suis pas un homme facile, Éléonore Pourriat, 2018) e da "instasérie" Mundo Invertido da atriz Cláudia Campolina, a professora mostrou como a inversão de papéis do mundo patriarcal para um mundo “femista” explicita as violências vividas pelas mulheres diariamente.

o cuidado de si foucault historia da sexualidade
ate os sonhos

Clique na imagem da capa para acessar o pdf do livro organizado pelo Professor Nilton Milanez

mundo invertido claudia campolina
*Por Bruna Zarattini (Doutoranda em Letras/UFMG), Najla Gaia (Mestranda em Filosofia/UFMG) e Sofia Morais (Mestranda em Letras/UFMG)
Fotos: Romana Guimarães (Mestranda em Filosofia/UFMG) e André Bomfim Mynssen Coelho (Doutorando em Filosofia/UFMG) e Clinton Santos (Graduando em Filosofia/UFMG)
docere delectare movere
grupo de pesquisa retorar ufmg
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