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O Manuscrito de Saragoça 

No dia 16 de fevereiro de 2024, sexta-feira, os participantes do IV Seminário Docere, delectare et movere: sonhos, ficções e (ir)racionalidades foram convidados a assistir a O manuscrito de Saragoça (Rekopis znaleziony w Saragossie, Wojciech Has, 1965, 3h02). A narrativa cinematográfica mergulha profundamente nas nuances do surrealismo e do misticismo enquanto tece uma trama complexa que desafia as expectativas do público. Baseado no romance homônimo de Jan Potocki, o filme é uma jornada labiríntica através de histórias dentro de histórias, em que a realidade e o fantástico se misturam.

In the Labyrinth of Erotic Dreams: The Saragossa Manuscript - O professor Martin M. Winkler (Letras Clássicas/George Mason Universtity), convidado desde a primeira edição do seminário e incentivador das pesquisas relacionadas à recepção dos clássicos, realizou a segunda conferência do evento no dia seguinte (17), intitulada No Labirinto dos Sonhos Eróticos: o Manuscrito de Saragoça. Ele apresentou diálogos com textos da antiguidade clássica Greco-Romana perceptíveis no filme.

Dirigida por Wojciech Has, a produção cinematográfica captura a essência da obra literária e transporta o público para um mundo onde o tempo e o espaço são fluidos e onde mitos, lendas e realidade se entrelaçam. A narrativa acompanha o oficial espanhol do século XVIII, Alfonso van Worden, durante viagem pela Espanha em que encontra uma série de personagens peculiares - cada um com a própria história para contar.

O que torna O Manuscrito de Saragoça tão cativante é a maneira como desafia as convenções narrativas tradicionais com múltiplas camadas de significado e a exploração de temas que vão desde o sobrenatural até questões existenciais e filosóficas. A cinematografia mostra paisagens pitorescas que complementam a atmosfera misteriosa e intrigante. Embora acompanhar as reviravoltas da trama seja uma tarefa complexa, o filme recompensa aqueles que estão dispostos a se perder nesse labirinto narrativo com uma experiência cinematográfica única e marcante. 

A partir dessas características, Martin Winkler ressaltou a imagem do labirinto com referências a Lucrécio e Ovídio. O professor explicou que a temática já estava presente na cultura greco-romana, não apenas na figura de Teseu e o Minotauro, como na própria estrutura textual da tragédia e da poesia. A narrativa complexa também pode ser encontrada nas Metamorfoses de Ovídio, e a construção do manuscrito pode ser relacionada à tessitura das moiras, as três divindades irmãs e tecelãs dos fios do destino de cada ser.

O professor Martin Winkler também indicou a trama dos sonhos eróticos e como as personagens femininas e a temática erótica perpassam as diversas camadas do filme. Essa sobreposição de camadas e a narrativa labiríntica, segundo o palestrante, remetem à imagem das matrioskas (as bonecas russas) que ele associou a “bonecas gregas”. Tais camadas relacionam-se com as diversas narrativas greco-romanas fundamentais para a composição do nosso arcabouço literário-imagético. Ele acrescentou ainda as conexões com o livro Labirinto, de Jorge Luis Borges, e o filme Agadah (2017), de Alberto Rondalli, também adaptado do livro O Manuscrito de Saragoça. No encerramento da conferência, observou como tais narrativas são contadas e recontadas com elementos próprios de seu tempo e concluiu que todas essas produções fazem “parte de uma grande história”.

*Por Daniel Felipe Couto Vieira Silva (Doutorando em Filosofia/UFMG)
Fotos: Romana Guimarães (Mestranda em Filosofia/UFMG), André Bomfim Mynssen Coelho (Doutorando em Filosofia/UFMG) e Clinton Santos (Graduando em Filosofia/UFMG)
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