(Ir)racionalidades em diferentes "paisagens"
O último dia do IV Seminário Docere, delectare et movere em 19 de fevereiro foi marcado pela multidisciplinaridade e variedade de temáticas vinculadas aos sonhos, ficções e irracionalidades.
Kant e os espectros. Metafísica, sonhos e ficção nas origens da indústria cultural - O professor Walter Menon (Filosofia/UFMG) comentou sobre o ensaio em que Kant, de modo especulativo, tenta explicar a existência do mundo dos espíritos. Ele destacou o lugar da fantasmagoria no século XVIII e como essas questões caíram no gosto popular, colaborando para superstições e uma série de crenças no sobrenatural.
Escritura e paisagem onírica, a partir de Derrida - Alice Serra (Filosofia/UFMG) abordou como a leitura de Freud por Derrida o leva a refletir sobre o problema da escrita ou escritura. A professora também discorreu sobre a experiência onírica desde o descentramento antropológico, assim como o problema da qualidade e o enigma da imagem onírica em Derrida.
Eros e Thanatos: o sonho como articulador do sensível em Aichinger e Bachmann - A professora Marina Corrêa discorreu sobre a vida e obra das escritoras Ilse Aichinger e Ingeborg Bachmann, que descrevem experiências oníricas no período da Segunda Guerra Mundial.
Irracionalidade, Akrasia e Tempo - Verônica Campos (Filosofia/FAJE) tratou da noção de Akrasia - fraqueza de força de vontade - empregado por autores contemporâneos da tradição anglo-saxônica (D. Davidson. Richard Hare, J.L. Austin). A professora tangenciou diferenças e semelhanças na filosofia antiga e na literatura grega, além de algumas ocorrências de Akrasia, como:
-
o Banquete ou Symposium de Platão, com a figura do personagem Alcibíades;
-
e a personagem Medéia de Eurípides, pela descrição de Galeno.
Ela também, destacou como os estudiosos contemporâneos negligenciaram importantes características da noção de Akrasia e propôs uma melhor compreensão dessa categoria por meio da análise de aspectos ignorados pelos pensadores contemporâneos.
Oneiros, phantasma e phantasia na tradição cínica - O professor Olimar Flores apresentou reflexões sobre o interesse dos cínicos pelos sonhos. Ele destacou o viés crítico desses filósofos e como eles se valem das representações na elaboração crítica que integra uma cruzada contra as formas de superstição popular e da religião.
Sonhos contemporâneos
A última conferência do seminário foi promovida pelo professor Gilson Iannini (Psicologia/UFMG).
Sonhos que interpretam o século - O palestrante apresentou o projeto tema do livro Sonhos Confinados (Autêntica, 2021), organizado por ele junto com os pesquisadores Christian Dunker, Cláudia Perrone, Miriam Debieux Rosa e Rose Gurski. O objetivo da iniciativa é examinar os sonhos dos brasileiros durante a pandemia considerando informações como gênero, etnia, classe social, orientação política etc., em busca de dados infamiliares ou incomuns, que fugiam à manifestação típica ou comum de sonhos em períodos de catástrofe. Ele destacou a importância e o uso da inteligência artificial e da engenharia da computação para a pesquisa e analisou como em tempos de mal estar social - guerras, pandemias etc. - os sonhos aparecem como sintoma ou reflexo dos problemas políticos e socioeconômicos vigentes, entre outros. O professor destacou ainda a importância dos livros Os sonhos no Terceiro Reich, de Charlotte Beradt, e Freud no século XXI, de própria autoria.
Encerramento - Depois de cinco dias intensos, o IV seminário Docere, Delectare et Movere foi encerrado na tarde de segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024, com as falas emocionantes da professora Maria Cecília Coelho (Filosofia/UFMG) e do professor Walter Menon (Filosofia/UFMG), organizadores que falaram também em nome da professora Helcira Lima (Letras/UFMG). Eles lembraram, com gratidão, todos os nomes que ajudaram a construir a história do encontro. Com fotos sensíveis, a professora Maria Cecília nos transportou pelas memórias e obras do Padre Lauro Palú e nos encantou com a beleza do seminário. O contato com a natureza e as belas paisagens contribuíram muito para a experiência de imersão no mundo onírico: tudo parecia um sonho lindo. Por isso, podemos dizer que esses cinco dias inesquecíveis realçam o sentimento de nostalgia do primeiro momento, a nostalgia de tudo que vivemos e de tudo que está por vir nas próximas edições do seminário.
*Por Clinton Santos (Graduando em Filosofia/UFMG) e Najla Gaia (Mestranda em Filosofia/UFMG)Fotos: Romana Guimarães (Mestranda em Filosofia/UFMG), André Bomfim Mynssen Coelho (Doutorando em Filosofia/UFMG) e Clinton Santos (Graduando em Filosofia/UFMG)
Links complementares:
Confira o que aconteceu nos outros dias do IV Seminário Docere, delectare et movere: sonhos, ficções e (ir)racionalidades:
15/02 Memórias, presságios e poderes
16/02 Recepção dos clássicos, arqueologia dos sonhos
17/02 Sonhos de grandeza, erotismo e tabus
18/02 Sonhadores de imagens e ficções
Resenhas dos filmes exibidos
Malpertuis (Harry Kümel, 1971, 110 min.)
O Manuscrito de Saragoça (Rekopis znaleziony w Saragossie, Wojciech Has, 1965, 3h02min.)
A Hora do Lobo (Vargtimmen, Ingmar Bergman, 1968, 1h29min.)