Seminário do Grupo RETORAR da UFMG
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Sonhadores de imagens e ficções

História política e imaginação - Alex Calheiros (Filosofia/UnB - Diretor do Museu da Inconfidência de Ouro Preto) foi o palestrante convidado da terceira conferência do IV Seminário Docere, Delectare et Movere na manhã de domingo, 18 de fevereiro de 2024. Ele propôs uma reconstrução simbólica da figura do intelectual italiano ao longo da história até chegar ao poeta e cineasta Pier Paolo Pasolini. O professor analisou o filme Caro Diário (Caro Diario, 1993), de Nanni Moretti, uma comédia dramática autobiográfica que homenageia Pasolini. O protagonista está em tratamento de câncer e percorre as ruas esvaziadas de Roma. A cidade sofre as consequências do capitalismo avassalador, em um cenário pré-anunciado por Pasolini. Moretti decide, então, visitar o túmulo do poeta.

Dando asas à imaginação: onirismo funerário-amoroso e a sublimação da morte pela iconografia dos vasos italiotas (séc. IV a.C.) -Grécia foi o tema geral da sexta mesa-redonda do IV Seminário. O professor Fábio Vergara (História/UFPEL) expôs imagens detalhadas dos vasos italiotas no sul da Itália, após a Guerra do Peloponeso (século V a.C.). A alternância entre o branco e o vermelho, as flores fantásticas e figuras como Afrodite e sereias são alguns dos elementos marcantes nos vasos dessa época, unindo o erótico à possível representação de rituais fúnebres.

Vasos italiotas

Ideological fictions and collective identities: from the modern nation to classical Greece - A professora Myrto Aloumpi (Pós-Doutoranda Filosofia/UFMG-CAPES/PRINT, Centre for Oratory and Rhetoric, Royal Holloway/UL) abordou temas como a criação de identidade de um povo e a glorificação de um passado idealizado, a fim de trazer possíveis críticas à Grécia moderna em quesitos sociais, raciais e coloniais. 

Expressões artísticas dos sonhos e ficções​

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Entre os sonhadores de Bertolucci e os de Kurosawa - Carolina Assunção (Comunicação - Pós-graduação CEUB/Escafandro Cursos Livres) falou sobre a representação dos sonhos por meio da linguagem cinematográfica, mais especificamente a composição dos quadros-fotogramas-frames, a justaposição de planos via montagem-edição e a relação de personagens sonhadoras no cinema com o espaço cenográfico por onde transitam. Para isso, mostrou duas cenas dos filmes Sonhos (Dreams, 1990), de Akira Kurosawa, e Os sonhadores (The Dreamers, 2003), de Bernardo Bertolucci. A professora também abordou a questão da evolução tecnológica e de como os limites entre ficção, realidade e espaços da narrativa se alteram em obras audiovisuais imersivas - realidade virtual, realidade aumentada. O trabalho da dupla de artistas audiovisuais VJ Suave foi exibido para exemplificar a reflexão.      

Manual de sobrevivência : ficção e história, mito e miração em « mulheres empilhadas (2019), de Patricia Melo - O professor Roberto Said (Letras/UFMG) apresentou análise do romance de Patrícia Melo com a temática da violência contra as mulheres. O livro traz 3 planos narrativos:

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  • microcapítulos, com breve relatos de crimes violentos contra mulheres brasileiras;

  • a história detetivesca em si;

  • e a experiência alucinógena da narradora entranhada nos rituais ligados à cultura da floresta dos povos originários.

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A busca policial realizada pela personagem principal que tenta desvendar o crime faz com que se reviva o passado da mãe, assassinada pelo próprio marido e pai da protagonista. Uma forte crítica à sociedade patriarcal, mais especificamente à estrutura social e jurídica que propicia os crimes contra as mulheres, o livro cria um diálogo entre o individual e o coletivo, atribuindo um tom de fúria à vingança feminina, semelhante, de acordo com o professor, com as erínias (personificações da ira/vingança) da mitologia grega.

mulheres empilhadas

Possente Spirto - Sonho ou arte? - A presença da professora e regente Iara Fricke Matte (Música/UFMG) analisou a ária Possente spirto, da ópera L’Orfeo (1607), composta por Claudio Monteverdi. A professora apontou os detalhes da construção do canto pelo compositor italiano ao narrar a ida de Orfeu ao Tártaro em busca da amada Eurídice. Monteverdi cria uma afinidade sonora entre a música e a retórica, de modo que o discurso da personagem fique claro, ao mesmo tempo em que transmita emoção intensa, potencializando o poder da música. A ornamentação extrema foi demonstrada pela professora quando ela cantou trechos da partitura durante a exposição de suas reflexões. 

*Por Najla Gaia (Mestranda em Filosofia/UFMG) e Sofia Morais (Mestranda em Letras/UFMG)
Fotos: Romana Guimarães (Mestranda em Filosofia/UFMG), André Bomfim Mynssen Coelho (Doutorando em Filosofia/UFMG) e Clinton Santos (Graduando em Filosofia/UFMG)
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