Sonhadores de imagens e ficções
Dando asas à imaginação: onirismo funerário-amoroso e a sublimação da morte pela iconografia dos vasos italiotas (séc. IV a.C.) -A Grécia foi o tema geral da sexta mesa-redonda do IV Seminário. O professor Fábio Vergara (História/UFPEL) expôs imagens detalhadas dos vasos italiotas no sul da Itália, após a Guerra do Peloponeso (século V a.C.). A alternância entre o branco e o vermelho, as flores fantásticas e figuras como Afrodite e sereias são alguns dos elementos marcantes nos vasos dessa época, unindo o erótico à possível representação de rituais fúnebres.
Ideological fictions and collective identities: from the modern nation to classical Greece - A professora Myrto Aloumpi (Pós-Doutoranda Filosofia/UFMG-CAPES/PRINT, Centre for Oratory and Rhetoric, Royal Holloway/UL) abordou temas como a criação de identidade de um povo e a glorificação de um passado idealizado, a fim de trazer possíveis críticas à Grécia moderna em quesitos sociais, raciais e coloniais.
Expressões artísticas dos sonhos e ficções
Entre os sonhadores de Bertolucci e os de Kurosawa - Carolina Assunção (Comunicação - Pós-graduação CEUB/Escafandro Cursos Livres) falou sobre a representação dos sonhos por meio da linguagem cinematográfica, mais especificamente a composição dos quadros-fotogramas-frames, a justaposição de planos via montagem-edição e a relação de personagens sonhadoras no cinema com o espaço cenográfico por onde transitam. Para isso, mostrou duas cenas dos filmes Sonhos (Dreams, 1990), de Akira Kurosawa, e Os sonhadores (The Dreamers, 2003), de Bernardo Bertolucci. A professora também abordou a questão da evolução tecnológica e de como os limites entre ficção, realidade e espaços da narrativa se alteram em obras audiovisuais imersivas - realidade virtual, realidade aumentada. O trabalho da dupla de artistas audiovisuais VJ Suave foi exibido para exemplificar a reflexão.
Manual de sobrevivência : ficção e história, mito e miração em « mulheres empilhadas (2019), de Patricia Melo - O professor Roberto Said (Letras/UFMG) apresentou análise do romance de Patrícia Melo com a temática da violência contra as mulheres. O livro traz 3 planos narrativos:
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microcapítulos, com breve relatos de crimes violentos contra mulheres brasileiras;
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a história detetivesca em si;
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e a experiência alucinógena da narradora entranhada nos rituais ligados à cultura da floresta dos povos originários.
A busca policial realizada pela personagem principal que tenta desvendar o crime faz com que se reviva o passado da mãe, assassinada pelo próprio marido e pai da protagonista. Uma forte crítica à sociedade patriarcal, mais especificamente à estrutura social e jurídica que propicia os crimes contra as mulheres, o livro cria um diálogo entre o individual e o coletivo, atribuindo um tom de fúria à vingança feminina, semelhante, de acordo com o professor, com as erínias (personificações da ira/vingança) da mitologia grega.
Possente Spirto - Sonho ou arte? - A presença da professora e regente Iara Fricke Matte (Música/UFMG) analisou a ária Possente spirto, da ópera L’Orfeo (1607), composta por Claudio Monteverdi. A professora apontou os detalhes da construção do canto pelo compositor italiano ao narrar a ida de Orfeu ao Tártaro em busca da amada Eurídice. Monteverdi cria uma afinidade sonora entre a música e a retórica, de modo que o discurso da personagem fique claro, ao mesmo tempo em que transmita emoção intensa, potencializando o poder da música. A ornamentação extrema foi demonstrada pela professora quando ela cantou trechos da partitura durante a exposição de suas reflexões.
*Por Najla Gaia (Mestranda em Filosofia/UFMG) e Sofia Morais (Mestranda em Letras/UFMG)
Fotos: Romana Guimarães (Mestranda em Filosofia/UFMG), André Bomfim Mynssen Coelho (Doutorando em Filosofia/UFMG) e Clinton Santos (Graduando em Filosofia/UFMG)
Links complementares:
Confira o que aconteceu nos outros dias do IV Seminário Docere, delectare et movere: sonhos, ficções e (ir)racionalidades:
15/02 Memórias, presságios e poderes
16/02 Recepção dos clássicos, arqueologia dos sonhos
17/02 Sonhos de grandeza, erotismo e tabus
19/02 (Ir)racionalidades em diferentes "paisagens"
Resenhas dos filmes exibidos
Malpertuis (Harry Kümel, 1971, 110 min.)
O Manuscrito de Saragoça (Rekopis znaleziony w Saragossie, Wojciech Has, 1965, 3h02min.)
A Hora do Lobo (Vargtimmen, Ingmar Bergman, 1968, 1h29min.)